1
E perdoem, meu amigos,
O que agora vou dizer:
Porque a Vida que vivemos,
Só comendo dá prazer.
Temos prazer no comer,
Temos prazer no beber,
E temos prazer naquilo
Que, para Deus, não é viver.
Se tu queres a Salvação,
E mastigas o que engoles,
Por onde queres que isso saia,
Seja duro ou seja mole?
Se isso sai do teu eu nu,
Sai daquilo que tu és,
E não te sai pela cabeça,
Nem tão pouco pelos pés.
Mas o que te sai da boca,
É ao invés, ao contrário,
Paira no ar em redor,
Do teu corpo em calvário.
2
E cautela meus amigos,
Amigos do bom viver:
-Não andem atrás daquilo
Que sai e não anda a correr.
Porque a merda fica em pó,
Assim como fica o corpo.
Mas o que sai da nossa boca
Dá a cor ao nosso rosto.
O rosto em ti, é carne,
Mas para Deus é ventura,
Onde Ele lê e sabe
Se és morte ou levura*…
A levura* vem do leve,
O leve vem da levura*,
A palavra semestral
Vem da Vida que perdura
Se Deus vai ler no teu rosto,
Não vai ler na tua carne:
-Vai ler naquilo que tens,
Que para Deus é verdade.
3
A Verdade é um pontinho,
É um simples grão de areia,
Mas fora da tua carne,
Tem a Luz que a incendeia.
Acende-a com cautela,
Com carinho, e com vagar,
Para, quando chegar ao alto,
Não vá fender ou quebrar.
Assim como a Vida quebra,
Também quebra a luz do rosto,
E quando chegar ao Alto,
Não fica vivo nem morto.
A cor do rosto, para Deus, é Vida,
A cor do corpo é pecado,
E a sombra da tua alma
É a cruz do teu calvário.
Se tu ficares em sombra,
Ficas na Vida a carpir,
E ficarás em ler
No mundo que há-de vir.
4
Pois a cinza não faz sombra,
Faz um pó que esvoaça;
Esse pó não vai a nada,
Pois não tem Vida nem Graça.
A Graça vem da Palavra,
A Palavra vem da Luz,
A Luz vem da Providência,
O seu caminho é Jesus.
Jesus, para ti, é Luz,
E para Deus, é ternura,
Com que Deus baptiza todos
Que vivem na amargura.
A amargura de ter Vida,
Carregada de laré,
E terem de ter dentro de si
A Caridade e a Fé.
Estes são os filhos justos
Da pureza de Jesus;
Têm um corpo de nada,
Mas têm uma alma de Luz.
5
E a ninguém dê cuidado
A sua vida terrestre,
Pois eles já têm na alma
A Luz com que ela se veste.
E ficamos por aqui,
Sobre a Vida que tu és;
Caminha na Vida a bem,
Para andares sempre em pé.
Andar em pé é ter Fé,
É andar na Vida a bem,
Para ter Paz nesta Vida,
E firmeza no Além.
O Além é Reino de Deus,
Onde vivem os espíritos;
Mas só os que têm Luz,
Nunca te esqueças disto.
A Luz é adquirida
Pela firmeza da Fé.
E, Pela Graça de Deus,
Continuamos em pé.
* Entenda-se com o significado "leveza", ou "ligeireza", aqui neste poema escrito desta forma para rimar.
* Entenda-se com o significado "leveza", ou "ligeireza", aqui neste poema escrito desta forma para rimar.
Antónia Rosa d'Assunção Cerina - "Ensinamentos Espirituais" -(caderno 3)
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